Ele ainda estava na mesma
árvore, não sabia como “caçá-lo”, ele era com certeza mais forte que eu. Assim
que percebeu minha presença, olhou-me e acenou para que eu corresse.
Provavelmente não tinha visto que eu havia sido pega. Respirei fundo e pulei,
alcancei uns dos galhos mais baixos, ele pareceu empolgado e até feliz. Então fingi
que cai, o vi descendo rápido e ao alcançar o chão ele não me viu mais, estava atrás
dele e puxei uma de suas pernas. Thiago se desequilibrou e caiu ao chão se
apoiando nas duas mãos, me lançou um olhar assustado e confuso. Aproximei-me
dele, estendi a mão, assim que ele segurou com força e se levantou não o soltei
e comecei arrastá-lo até o campo.
-Você está ficando louca
Kelly?! Ele vai nos pegar!
-Não vai, ele não tá lá!
-Como ele não te viu?
-Posso não saber pular
ainda, mas sei me esconder.
-Esperta.
-Um pouco – Sorri e nos
aproximamos da árvore na qual o professor estava escondido. Ele saiu e prendeu
as mãos de Thiago para trás.
-O que é isso?!
-Desculpa.
-Muito bom, menina. Você
leva jeito.
-Obrigada – Sorri.
-Você mentiu pra mim! –
Thiago estava indignado, surpreso, mas ainda estava rindo.
-Você acreditou em mim –
Sacudi os ombros.
-Agora tenho que te ajudar
a caçar os outros? – Thiago pareceu empolgado.
-Não, você vai ficar preso
ai mesmo. E você... Qual é mesmo seu nome? – Ele franziu a testa.
-Kelly.
-Sim, você Kelly, vai
ficar aqui para que ninguém solte o Thiago.
-Sim senhor.
O professor sumiu enquanto
adentrava a floresta e não fazia barulho algum.
-Como você teve coragem de
mentir pra mim? – Thiago resmungava com cara feia.
-Não fique chateado –
Soltei uma risadinha.
-Não sei – Ele mexeu com
as mãos – Você não pode soltar um pouco? Está meio apertado.
-Posso ver o que dá pra
fazer – Me aproximei de suas mãos amarradas – A corda parece folgada o
suficiente pra não te machucar e não te deixar fugir.
-Não, estão apertadas, é
verdade.
-Você não vai me enganar.
-Droga – Thiago abaixou a
cabeça e pareceu pensativo – Está gostando daqui?
-Sim. Mas ainda preciso me
acostumar.
-Você está se saindo muito
bem.
-Obrigada.
Ficamos alguns segundos em
silêncio, Thiago parecia bem pensativo e eu estava olhando para a floresta do
campo para me certificar que ninguém viria. Estava tudo bem, mas eu me senti um
pouco apreensiva. Minha barriga gelou quando fui empurrada para trás até
encostar em uma das telas de proteção com um braço forte grudado ao meu
pescoço. Minha voz emudeceu, senti minhas pupilas arregaladas e minha
respiração falha. Thiago deu uma risadinha enquanto me observava.
-Como você se soltou?
-Tenho meus truques. – Ele
mostrou uma faca tão minúscula que sua lâmina devia ter no máximo dois
centímetros.
O professor então apareceu
correndo na nossa direção, mas antes de se aproximar outro aluno apareceu para
desafiá-lo. Os dois se encararam por alguns segundos e o aluno deu um salto
para cima do professor, que bloqueou o golpe imediatamente e quanto mais o
garoto tentava acertá-lo mais imobilizado ele ficava. Os olhos do garoto se
transformaram como em olhos de lince, suas presas cresceram e ele pulou para
acertar um soco no professor que estava agachado. Fazia tanta força na mão que
suas veias estufaram. O professor conseguiu desviar do golpe e o soco acertou o
chão e eu pude sentir um leve tremor. O aluno, agachado ao lado do local
atingido foi jogado no chão quando o professor o empurrou, imobilizando-o
totalmente. Os olhos do garoto voltaram ao normal e o professor o soltou,
caminhando em direção ao portão.
-A aula acabou. – Sorriu de
canto e caminhou como se tudo fosse normal. Thiago finalmente tirou seu braço
do meu pescoço e eu o toquei com as mãos.
-Te machuquei? – Ele pareceu
preocupado.
-Não, eu só me assustei. –
Começamos a caminhar em direção ao portão enquanto os outros alunos saiam de
seu esconderijo – Qual é daquele garoto de tentar atacar o professor?
-Os alunos mais velhos,
que estão mais próximos da transformação completa, são mais corajosos, se
arriscam mais. Eles precisam aprender a cuidar de si mesmos. Não se preocupe,
esse foi seu primeiro dia. – Ele deu uma risadinha que exibiu seus dentes
brancos e bonitos. – Só tome cuidado para ele não te escolher como ajudante, é
a parte mais difícil, você tem que ajudá-lo caçar os alunos até se transformar.
-Onde está o ajudante
dele?
-Se transformou faz uma
semana.
-Ele pode escolher
qualquer um?
-Qualquer um. Eu não
entendo a lógica dele, mas ele nos torna muito forte.
-Uau. Vou precisar muito
das aulas dele.
-Vai mesmo. – Ele riu –
Para onde você precisa ir agora?
-Eu não sei, Will disse
que ia vir me buscar.
-Willian? O cara cabeludo?
-Sim.
-Por que ele faria isso?
-Acho que é porque eu sou
nova, sei lá.
-Não acredito que ele
venha.
-Foi o que ele me disse.
-Tá certo. Acho melhor não
acreditar nele. Tá com fome?
-Na verdade não, me sinto
meio esquisita.
-Vamos para o refeitório
ver se encontramos algo que te agrada.
Passamos pelo caminho
escuro, pelo jardim da entrada principal e alcançamos a porta principal. Thiago
a abriu e deixou que eu fosse na frente, passamos pela sala e antes de
alcançarmos a entrada encontramos com Willian.
-Achei você Kelly.
-Te disse que ele viria. –
Falei para Thiago enquanto sorria.
-É, você disse. – Thiago lançou
um olhar estranho pra Will e continuou seu caminho solitário até o refeitório.
-O que quer fazer agora? –
Will perguntou enquanto bagunçava meus cabelos.
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